[RESENHA] CONTOS E CRÔNICAS DO ABSURDO - RÔ MIERLING


“Quando o encontro fatal aconteceu pela primeira vez, eu tinha 12 anos”

Assim nós entramos no mundo da Rô Mierling e de seus Contos e Crônicas do Absurdo. 

Primeiro conhecemos a sua história. Mas não pense naquela biografia padrão, não. Está mais para uma declaração de amor aos livros. Ela descreve seu primeiro amor, como quem conta um romance entre dois adolescentes que viverão felizes para sempre.

Cada linha, cada parágrafo, você descobre as idas e vindas desse amor. E, para quem tem o mesmo amor, também se reconhece nele. Quantos já não passaram por esse “encontro fatal”? A descoberta desse novo e diferente amor?

“A cada minuto do nosso dia, algo de bom pode acontecer, mas algo de terrível também pode bater a nossa porta.”


Após conhecermos o amor, vamos conhecer o absurdo. Que nem é tão absurdo assim. 

Espera, mas você não acabou de dizer que era absurdo? É ou não é absurdo?

Depende do ponto de vista, se levarmos em conta os valores humanos, sim é um absurdo. Se tomarmos por base o mundo em que vivemos, com todos os seus crimes, corrupção e drogas,  essas histórias parecem normais.

Quantos casos de crianças desaparecidas, sequestradas ou estupradas você já viu? De quantos casos de preconceito você já soube? Quantas pessoas passam por nós sem que saibamos de suas histórias? Quantas coisas engraçadas ou estranhas já te aconteceram?

É tudo isso que a Rô nos mostra nesses contos e crônicas. São histórias reais, que já aconteceram comigo, com você, com algum vizinho, parente ou amigo. Coisas que nós nem prestamos atenção, mas que neste livro são expostas por um novo ângulo.

Quando terminei a leitura deste livro, não fiquei pensando nas histórias dele, mas na simplicidade e absurdo delas. E no quanto estamos acostumados a esses absurdos, que já nem nos importamos mais no nosso dia-a-dia. 

Querem exemplos? 

Eu me reconheci na menina do conto “Trocados que valem ouro”. Assim como essa menina, já juntei o dinheiro da minha merenda para comprar um gibi ou um livro. Nunca pensei que isso poderia ser algo fora do comum.  Entretanto, é algo absurdo. Quantas crianças você conhece que abrem mão de comer um doce diferente para comprar um gibi ou livro? Pouquíssimas, ou nenhuma.

Um conto que dei muita risada foi “A caixa”. Porque também já fiz algo parecido ao filho do conto e que deixou minha mãe extremamente constrangida. É uma situação simples, boba até, mesclada pela ingenuidade de uma criança, mas que se torna uma ótima história para se lembrar por muitos anos. 

Também fiquei curiosa para saber qual é a cidade da crônica “Cidade Bipolar”. Mas pensando nisso, descobri que muitas cidades se encaixam nessa bipolaridade. Até mesmo a minha que não é litorânea.

Quem não se reconheceria na  crônica “Fidelidade desprezada”, que trata da relação cliente e telemarketing? Que atire a primeira pedra quem nunca perdeu a paciência com eles, seja qual for o serviço (tv a caba, internet, telefonia, cartão de crédito etc). Confesso que tenho verdadeiro trauma toda vez que preciso ligar para cancelar algum serviço.

Chorei com o conto “Isolados”, pois já vi situações semelhantes ou sempre alguém compartilha algo triste assim no Facebook.

Ah, o Facebook! Ele também entra nesses absurdos. E temos de admitir que é absurdo demais contar sua vida a estranhos e depois reclamar que as pessoas se intrometem  demais nela, kkkkkkkkkkk 

"É pessoal, antes usávamos a janela de casa para acompanhar a vida do nosso vizinho, agora não dá mais, se colocamos a cara para fora da janela corremos o risco de levar uma bala perdida, nos recolhemos para dentro de casa e ligamos nossos computadores e acessando o Facebook temos a oportunidade de ver diversas novelas simultaneamente, a vida da Maria, da Excluída, da Beleza Exótica, a minha e a de tantas outras pessoas."

Esses são os absurdos que nos passam despercebidos, pois é tudo tão absurdo, que passa a ser normal. E o normal passa a ser anormal, bizarro, deslocado.  Como no conto “Anormalidade”. E, confesso que, assim como a Helena, já tive muita vontade de me isolar daquela maneira. Realmente, de todos os contos, esse foi o que mais me identifiquei. Por quê? Por ser “anormal” num mundo “normal”, acabei desenvolvendo síndrome do pânico e depressão. E assim como ela, meu refúgio foram e é os livros. São eles que me fazem aguentar viver num mundo dito “normal”.

Mas isto não deveria ser a resenha de um livro? Então por que você está expondo tantas coisas pessoais aqui? E a análise técnica do livro?

Bom, o livro fala sobre absurdos. E o que é a vida senão um conjunto de tantos absurdos?

Não tem como falar tecnicamente de uma obra tão viva, tão cheia de sonhos, esperanças e, ao mesmo tempo, de simplicidade. Seria como fazer autópsia em uma pessoa viva. Um verdadeiro absurdo!!!

Este livro é fabuloso. Porque ele não é um livro de fantasia ou ficção. Ele contém a minha vida, a sua, a da minha amiga, a do meu vizinho, do meu chefe, daquela reportagem que vi semana passada. E nossa vida não pode ser “resenhada” de forma técnica. 

Tem de ser simples e poética como a Rô descreve. Nem sempre boa, mas nem sempre ruim.

Sempre gostei de contos, mas está foi a primeira vez que me vi neles. Que eles foram algo além de uma simples leitura. Ri, chorei, me indignei e me solidarizei com as histórias. 

Obrigada, Rô, por esta imersão no mundo dos absurdos que passam despercebidos na nossa rotina!







Um comentário

  1. Amei a resenha..uma das resenhas que me fez mais feliz, pois a leitora - blogueira conseguiu captar exatamente o que eu quis passar com o livro..Muito obrigada..super recomendo....Beijosss..Rô Mierling

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