A maioria dos livros sobre as lendas arthurianas sempre focam nas figuras centrais: Morgana, Arthur e Lancelot. E embora citem os feitos e importância de Merlin, geralmente não se aprofundam em sua vida.
Assim sendo, Marcelo Hipólito se arriscou numa aventura incerta: desvendar a personalidade de Merlin. Não mais o Mago Merlin, mas o Merlin homem, com qualidades e defeitos, com sua vida sofrida e sua busca por vingança que acabou afetando a vida de tantas pessoas e a própria história da Grã-Bretanha.
Merlin, neste livro, não é o bom velhinho, conselheiro de Arthur. Merlin é um garoto sofrido, castigado pela vida, que viu o irmão ser brutalmente assassinado num ritual por um druida. Com o objetivo de vingar o irmão, Merlin aceita ser discípulo do algoz do seu irmão, na esperança de superá-lo e matá-lo. Mas quis o destino que o desejo de Merlin acabasse se tornando a própria destruição da ideologia dos druidas e mudasse o destino de muitas vidas.
Da sua infância pobre, passando por seu treinamento na ilha de Avalon, as maquinações dos reis por poder, suas andanças com Arthur pelo reino, até chegarmos a Távola Redonda. Merlin foi vítima, vilão e herói na vida de vários personagens. Assim desmistificando seu caráter bondoso e altruísta, como em muitas histórias, Marcelo nos dá o lado mais humano de Merlin.
O livro está dividido em duas partes: Trevas e Luz. Trevas representa a época em que Merlin buscava sua vingança e Luz quando ele passou a se dedicar a propósitos maiores que seus próprios sentimentos. Também divide o governo da Britânia, quando seus reis apenas desejavam poder, lutando e se matando sem nunca melhorem como pessoa e como reino. E, a era de Arthur, onde se buscou o crescimento do povo como um todo. Arthur é luz e seus antecessores são Trevas.
Não espere um livro tranquilo. Marcelo nos choca com as descrições de batalhas, com a dureza das pessoas e com a crueldade das circunstâncias. Entretanto, não há interferência do narrador nas descrições das cenas. Não há julgamentos ou justificativas. Não há pessoas boas ou más, há apenas pessoas reagindo as situações que a vida lhe apresenta. Uma hora construindo e, noutra destruindo. Amando e odiando.
O Mago de Camelot é um livro rápido. Em muitos, aspecto rápido demais. Sendo a escrita tão boa e a história tão interessante, o autor poderia ter nos brindados com mais páginas. Mas isso não tira a grandeza da história.
Para aqueles, como eu, que estão acostumados com livros grandes, diálogos intrincados e personagens envolventes, vão estranhar um pouco a singularidade deste livro. Já que é uma narrativa completamente descritiva. Isso lembrou-me das histórias que ouvia quando criança (não, eu não gostava de contos de fadas. Preferia histórias sobrenaturais ou sobre algum acontecimento específico).
Prepare-se para ver Merlin de uma maneira que você jamais imaginou.
"O destino é implacável. Mas lembre, Arthur, nós sempre temos escolha. O futuro não está definido. Ele é fluido, incerto, moldado segundo nossas vontades."
Ansiosa para ler, acho que depois de sua resenha minha curiosidade aumentou consideravelmente e estou com aquela certeza de que irei devorar as páginas. Parabéns pela sinceridade e resenha super bem colocada!
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