Uma casa diferente, que ganhou este nome por ser estreita e comprida, na entrada há um painel de azulejos sobre a porta, com a pintura de um anjo ajudando duas crianças a atravessar uma ponte. E assim veio o nome Travessa do Anjo.
A Travessa do Anjo guarda lembranças de todos que viveram ali. Nada foi mudado ou jogado fora. É mais como um museu familiar do que uma casa. Mas é o lar de Anabela e seu pai Marcelo.
Marcelo é arquiteto e apaixonado pela sua profissão. Ele é especialista em construções do século XIX e XX.
Então não foi surpresa quando ele anunciou que havia conseguido o emprego dos sonhos: ser um dos responsáveis pela reforma do Thatro José de Alencar, o mais antigo da cidade de Fortaleza. Ninguém conhecia mais sobre o teatro do que Marcelo e o objetivo da reforma era que tudo ficasse exatamente igual ao dia de sua inauguração em 1910.
Mas a novidade dessa notícia é que Anabela iria teria de ficar com ele no teatro todas as tardes após o colégio.
A princípio pareceu uma grande notícia, já que Anabela também amava e conhecia aquele teatro. E, além disso, eles foram convidados para uma apresentação de balé, em comemoração ao início da reforma.
A expectativa era muito grande, pois Anabela nunca tinha ido a um evento tão chique e foi logo pedir a ajuda de sua amiga Luciana. Juntas se arrumaram e aguardaram ansiosamente pela hora do balé.
Ao chegarem ao tetro pararam um tempo na praça do outro lado da rua para admirá-lo. Ela não entendia como as pessoas podiam passar indiferentes a tamanha beleza. Sem perceber o encanto que as cercava, enquanto os três ficavam ali admirados, sem palavras, olhando para o passado.
A sala de espetáculos era uma obra-prima a parte: vitrais coloridos e uma gigantesca estrutura de ferro esverdeado, riquíssima em detalhes e que feio da Escócia de navio.
Luciana, Anabela e seu pai tomaram seus assentos, na primeira fileira, já que Marcelo era o principal arquiteto responsável pela reforma, então tinham lugares de honra. Mas todos os funcionários que trabalhariam na reforma estavam ali.
Ao toque da terceira campainha a luz diminuiu e o espetáculo começou. A peça da noite era a obra Giselle, um balé lindo, romântico e, como toda história de amor de sucesso, trágica.
Durante o balé, uma bailarina se destacou. Não só pela sua roupa diferente, mas por sua dança. Ela parecia flutuar. Parecia apenas, não, num momento ela realmente flutuou. E o coração de Anabela veio a boca. E então a bailarina a notou...
Num instante ela estava na frente de Anabela, perguntando desesperada se realmente estava sendo vista. Pelo olhar de medo da menina, ela pode ver que era vista e ouvida muito bem.
Anabela estava apavorada, sem saber o que era aquilo. Não podia ser real. Devia ser parte do espetáculo. Mas então por que ninguém mais estava prestando atenção nelas? E que frio era aquele, que parecia congelar sua alma?
E então, a bailarina chegou o mais perto que pode, disse a Anabela para voltar e saiu junto com as outras bailarinas.
Anabela estava transtornada ao sair do teatro. Seu pai estava tão emocionado e feliz que nem notou. Mas isso não passou desapercebido de sua amiga, Luciana. Que na primeira oportunidade foi interroga-la.
Buscando coragem, Anabela relatou tudo o que aconteceu. Desde a dança da bailarina até suas palavras e olhar triste. Lógico que Luciana não acreditou e tentou afastar essa história para não ver a amiga assim tão assustada.
Mas o destino não permitiria que essas duas esquecessem assim tão fácil da bailarina e uma prova irrefutável da sua existência chegou até as meninas no dia seguinte.
Agora as duas tinham nas mãos um grande mistério um grande problema. O mistério de saber qual a história da bailarina fantasma e o problema de ter de voltar ao teatro todas as tardes (correndo o risco de encontra-la).
A Bailarina Fantasma foi um livro que me chamou a atenção desde que o vi. Primeiro porque é uma história sobre fantasmas (adoro isso), segundo porque envolve a história de um lugar lindo que é o Theatro José de Alencar.
Infelizmente só conheço o teatro por fotos, mas é o tipo de lugar mágico que guarda muitos segredos. E todo teatro que se presa tem de ter uma história de fantasma, não é mesmo?
O livro é lindo. Tanto na história quanto na arte.
A história é leve, rápida e cativante. A autora consegue nos envolver no mistério da bailarina fantasma de uma forma que sentimos sua tristeza e torcemos para que haja um final feliz para ela.
Os personagens são bem carismáticos, tendo muitas passagens engraçadas e algumas tristes. Mas isso não torna o livro triste. Ao contrário é um livro que transborda amor. Amor ao teatro, amor a aqueles que partiram, amor aqueles que estão presentes em nossa vida e amor a aqueles que o destino nos devolve.
Não preciso dizer que a capa é bem chamativa. Aliás, jamais imaginei uma capa dessas para um livro sobre fantasmas. Mas ela se baseia nos enfeites e vitrais do Theatro José de Alencar (só que com cores mais fortes).
A única coisa que não gostei foi o excesso de folhas coloridas para dividir os capítulos. Chegou a causar um pouco de confusão. Acho que deveriam ter deixado apenas as fotos do teatro, que por sinal ficaram lindas, mas devido a enorme quantidade de folhas coloridas teve pouco destaque.
Aliás, acho que seria interessante para uma próxima edição, deixar apenas as imagens do teatro como divisor de capítulo. As páginas coloridas podem ficar para a divisão dos atos. Ah, estava esquecendo de comentar, o livro é dividido em três atos (como uma peça de balé) e dentro de cada ato ficam os capítulos.
É um livro de leitura rápida, mas fiz questão de degusta-lo lentamente, pois é uma história linda. Aproveitei e o reli quando terminei.
Se você tiver a oportunidade de conhecer o Theatro José de Alencar, então vá visitá-lo. Mas leve este livro junto, para reviver os passo da bailarina fantasma. E caso a encontre... não fuja, ela pode ter muitas histórias para contar.
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