[RESENHA] O DOADOR DE MEMÓRIAS - LOIS LOWRY


Confesso que demorei a assistir a esse filme, e depois de assisti-lo fiquei curiosa sobre o livro. Já que as adaptações alteram muitas coisas. Mas neste caso, o filme não alterou a essência do livro. 

O Doador de Memórias é um livro que nos faz refletir sobre o aprendizado que o passado nos trás. Muitas vezes ouvimos dizer “esqueça o passado e siga em frente”. Na verdade, essa frase está errada. É impossível esquecer o passado e também não é bom. Pois se você esquece os erros que cometeu, o que te impedirá de cometê-los novamente? 

Essa é a proposta da história. Para ter uma vida perfeita, a humanidade abriu mão de seu passado e da sabedoria que vem dele. Esqueceram as guerras, a fome, todas as calamidades, mas o preço disso foi alto, pois também tiveram de esquecer o amor, a família e os desejos. 



É nessa sociedade perfeita e equilibrada que vive Jonas, um garoto de 12 anos que está prestes a descobrir qual será a profissão que irá exercer para o bem da comunidade. 

Jonas é igual a todos da sua idade, mesmo porque nessa sociedade igualitária tudo é padronizado. 

Jonas vive numa unidade familiar, que é bem diferente de uma família. Os pais tem a função de garantir o crescimento e a ensinar às regras as crianças que lhes são dadas por um processo de seleção. 

Não são pais biológicos, já que tanto a situação de pais quanto de mãe biológica é uma profissão. As crianças são “fabricadas” e mandadas para centros de crescimento, de onde serão entregues as suas futuras unidades familiares. 

Amor, carinho e cumplicidade não existem. O que existe é uma convivência perfeita, sem sentimentos, mas alicerçadas nas regras e no igualitarismo. 

As crianças são educadas por ciclos de um ano cada e todas da mesma forma. Fazendo as mesmas coisas, usando roupas idênticas, até a forma de pentear o cabelo é igual para cada idade. 

"Se tudo é sempre o mesmo, então não há escolhas! Quero acordar de manhã e decidir coisas! Hoje vou vestir uma túnica azul o uma vermelha. Mas é tudo igual, sempre."


No dia da tão esperada Cerimônia dos Doze, Jonas está muito nervoso, mas isso só piora quando a Anciã-Chefe pula seu número ao anunciar a nova designação de seus amigos. 

Jonas se sente perdido, envergonhado e fracassado. Mas ao final, ela o chama ao palco e surpreende a todos ao dizer que Jonas não foi indicado a uma a uma atribuição, ele foi escolhido. 

A Anciã-Chefe explica que raramente, isso acontece. Pois o que aguarda Jonas requer muito de uma pessoa. Algo que nem ela mesma entende. Jonas será o Guardião de Memórias. Isso irá requerer dele coragem, disciplina e muita força, pois somente ele sentirá dor, uma dor tão profunda e intensa que nenhum outro na comunidade conhece. Exceto o atual Guardião de Memórias. 

"Às vezes não nos sentimos inteiramente seguros ao decidir sobre as Atribuições, mesmo depois de uma observação escrupulosa. Às vezes existe a preocupação de que uma ou outra pessoa não desenvolva, com o treinamento, todos os atributos necessários para aquela função. Os Onze ainda são crianças, afinal de contas. O que consideramos jovialidade e paciência - as qualidades que se exigem de um Criador -, com a maturidade, pode se revelar  apenas tolice e indolência. Por isso, continuamos a observação durante o treinamento, para modificar certos comportamentos quando necessário. Mas o Recebedor-aprendiz não pode ser observado, não pode ser modificado. Isso está explícito nas regras. Ele deve ficar sozinho, isolado, enquanto é preparado pelo atual Recebedor para a função de maior honra em nossa comunidade."


Assim, Jonas inicia o treinamento com o Doador de Memórias e descobre o tanto que seu povo abriu mão para ter aquela vida. 

Esse livro é incrível. Perto das distopias atuais, pode até parecer muito parado, mas deve ter sido algo único quando foi lançado (em 1993). 

Através do aprendizado de Jonas, podemos ver e analisar quantas situações cotidianas nós deixamos passar como se fossem banais. Mas que se enquadram num contexto único: nossas lembranças. 

Quem já não disse “adoraria esquecer tudo isso”? Quem ainda não disse, em algum momento da vida dirá. Mas esquecer, mesmo que seja o pior sofrimento, nos faz perder a sabedoria do que vem dele. 

"- Mas por que todo mundo não pode ter as lembranças? (...)
- Mas nesse caso seria pesado e doloroso para todos. Eles não querem isso. E é esta a verdadeira razão por que o Recebedor é tão vital para eles e tão reverenciado. Eles me escolheram, e escolheram você, para tirar deles esse fardo."

Isso é o que o livro debate, o quanto conhecimento e sabedoria foram perdidos pela vida perfeita. Que durante o livro vemos que não é tão perfeita assim. As desgraças apenas receberam uma maquiagem, mas continuam naquela comunidade. Porém ninguém consegue senti-las ou reconhecê-las 

Adorei o livro. A Lois Lawry conseguiu passar todo o sentimento de vazio deixado pela ausência de lembranças. É um livro para se ler num dia de chuva ou nublado, com uma xícara de chocolate quente ao lado e refletir sobre as nossas lembranças. 




7 comentários

  1. Oi, Rô.
    Eu fiquei louca pelo trailer desse filme quando vi no cinema, mas ainda não consegui assistir :/
    Sei que também vou querer ler o livro e é ótimo saber que a essência não foi alterada.
    Sua resenha me deixou bem curiosa :)

    Beijocas,
    http://www.segredosentreamigas.com.br/

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  2. Oi Ro! tudo bem? Ainda nao consegui assistir o filme, mas já tenho o livro aqui em casa, mas me falta aquele nosso tempinho hahaha, sei que vou adorar, todas as resenhas me apontam coisa positivas, espero fazer em breve!

    Beijos,
    Joi Cardoso
    Estante Diagonal

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  3. Não conhecia o filme e nem o livro mas parece ser otimo, porque concordo se esquece do passado que aprendizado você terá, mesmo que tenha vivido coisas ruins, vou procurar assistir o filme. Amei seu blog e estou seguindo beijos http://www.blogdaxavier.com.br/

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  4. Estou com o livro e pretendo ler ele primeiro, mas estou mega ansiosa pra assistir o filme!!

    xoxo
    http://www.amigadaleitora.com/

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  5. Já ouvi falar muito bem sobre o filme, mas não sabia do que se tratava. Parece ser uma trama bem envolvente já que você falou que a adaptação não deixou de lado a essência do livro. Ótima resenha!

    http://blogquerida.blogspot.com.br/

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  6. Também gostei muito do livro e assim como você não tive tantas alegrias com o filme. Uma pena. Mas já é esperado né? Ainda não consegui ler a sequencia da trama, mas espero fazer isso em breve.

    http://cafeecomletras.blogspot.com.br/

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  7. Oie, Rô!
    Eu sou curiosa para assistir o filme, confesso. Mas pretendo fazer isso depois de ler o livro para poder imaginar tudo sem ser prejudicada pelo que a adaptação impõe, sabe? De certa forma, mesmo sendo uma distopia, Doador parece inovar, e isso instiga nossa curiosidade. Amei a resenha.
    Com carinho,
    Celly.

    http://melivrandoblog.blogspot.com/

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